20 setembro 2009

Pará celebra 80 anos de imigração japonesa na Amazônia

O ano era 1929 quando os primeiros japoneses chegaram ao município paraense de Acará, após uma longa negociação entre a Companhia de Imigração e Comércio Oriental com o governo do Pará, atraídos pela necessidade de mão de obra para a agricultura em terras amazônicas. Com 189 pessoas a bordo, o navio Montevidéu Maru deixou, em 24 de julho de 1929, a cidade de Kobe, chegando ao porto do Rio de Janeiro em 7 de setembro. De lá, os passageiros embarcaram no Manila Maru até Belém, onde chegaram em 16 de setembro, seguindo para a colônia do Acará. Desde esse trajeto até os dias atuais já se passaram 80 anos de convivência entre brasileiros e japoneses, que tiveram como resultado a criação de laços definitivos do povo japonês com a Amazônia.

No Pará, a comunidade nikkei - termo que faz referência a japoneses e descendentes que vivem no exterior - é estimada em 13 mil pessoas. A maior parte vive em Belém, mas o município de Tomé-Açu, a 200 km da capital, concentra uma das maiores e mais tradicionais colônias japonesas do país. No local, as cerca de 300 famílias residentes mantêm os costumes de seus pais e avós imigrantes, como a prática do sumô, uma das atrações da cidade. Outros municípios paraenses que reúnem comunidades nipônicas, porém menores, são Castanhal, Santa Izabel do Pará, Capanema, Santarém, Monte Alegre e a própria cidade de Acará.

Desenvolvimento - Os japoneses que fincaram raízes no Pará foram fundamentais para o desenvolvimento econômico local. A principal contribuição foi na agricultura, com o cultivo da pimenta do reino e da juta, e mais recentemente de frutas regionais. A lavoura de pimenta do reino alcançou seu auge nos anos de 1960, quando respondia por mais de 35% do valor das exportações paraenses, totalizando 5 mil toneladas do produto.

Já no início de 1970, a disseminação da doença Fusariose arrasou os pimentais de Tomé-Açu, até então o principal produtor e exportador de pimenta do reino do Brasil. A desvalorização da pimenta e da juta levou à diversificação da produção. Os agricultores investiram principalmente na fruticultura. "Hoje, existe uma agroindústria em Tomé-Açu, criada por japoneses e de grande destaque, a Camta (Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu), cujas polpas de fruta são vendidas em supermercados de todo o país", informa Flávio Ikeda, técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará (Emater).

O município de Tomé-Açu também é sinônimo de agricultura sustentável. A implantação dos sistemas agroflorestais, que combinam o plantio de espécies frutíferas e florestais, recupera parte das áreas degradadas, proporcionando maior biodiversidade e uma produção ambientalmente correta. Tudo isso com a colaboração dos agricultores nikkeis.

Mas não foi somente a economia rural que cresceu. O comércio paraense também ganhou com a cooperação dos japoneses, como frisa o presidente da Associação Comercial do Pará, Altair Vieira. "Foi uma grande colaboração para o desenvolvimento do Estado, pela experiência trazida por esse povo. A integração dos japoneses na comunidade foi de grande valia. Eles não só impulsionaram a agricultura, como também o próprio comércio. Hoje, temos grandes lojas de destaque nacional", diz ele, citando a rede de supermercados Y. Yamada, 13ª no ranking da Associação Brasileira de Supermercados.

Comércio - A trajetória da família Yamada no Pará começou no início de 1928, quando Yoshio Yamada, pequeno comerciante de frutas e legumes de Numazu, cidade da província de Shizuoca, decidiu vir para o Brasil com a esposa Aki e o filho mais velho, Junichiro (atual presidente do grupo). Das plantações de arroz, milho e mandioca, em terras do município de Ourém, Yoshio veio para a capital, onde acabou fundando a empresa em 12 de maio de 1950.

Filha de Junichiro, Neuza Yamada, diretora comercial, conta que, assim como os demais imigrantes, os avós começaram na agricultura. Aos poucos, conseguiram reunir capital para investir no comércio. "Hoje, somos o maior contribuinte de impostos no setor de varejo do Pará. Pagamos mais de R$ 60 milhões ao ano, sendo que 10% vão para o fundo de pobreza do Estado", conta Neuza. Atualmente, a Y. Yamada conta com membros da 4ª geração da família em sua diretoria.

Formação étnica - Para o secretário de Estado de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia do Pará, Maurílio Monteiro, a contribuição dos imigrantes e seus descendentes está em toda parte. Segundo ele, a imigração japonesa faz parte da formação étnica, social e cultural do povo brasileiro, em especial do Pará, pela quantidade de descendentes e importância histórica. "Em nosso Estado, essa importância e presença podem ser verificadas em diversas áreas, como na economia - agricultura, comércio, fábricas -, na pesquisa (há centenas de pesquisadores com sobrenomes japoneses) e na área de prestação de serviços e de profissionais liberais. Na medicina, por exemplo, é expressiva a presença nipônica, entre outros segmentos", diz ele.

Ricardo Dohara, engenheiro agrônomo da Emater, concorda: "A colônia japonesa continua contribuindo. Hoje, os filhos e netos dos primeiros imigrantes não trabalham apenas na terra; também são médicos, advogados, dentistas. Estão totalmente integrados à região".

Cultura - No âmbito cultural, eventos como a Semana do Japão, promovidos pela Associação Nipo-Brasileira, já integram a agenda de quem vive em Belém. E os quadrinhos e desenhos animados japoneses, conhecidos como mangás e animes, caíram no gosto dos jovens paraenses. Sem falar na adesão de esportes como o beisebol e o golfe em muitos municípios, e na prática de artes marciais, como caratê, jiu-jitsu e o próprio sumô. Da mesma forma, os japoneses assimilaram conhecimentos e costumes amazônicos, em um rico intercâmbio que modificou e uniu as duas histórias. "O Pará se orgulha da presença japonesa, marcante em nossa diversidade e decisiva nos muitos aspectos da vida em nosso Estado", afirma o secretário Maurílio Monteiro.

Uma presença reforçada pelo Tratado de Amizade, Comércio e Navegação, assinado em Paris em 5 de novembro de 1895 - laços que evoluíram para o Acordo de Cooperação Técnica, que tornou Belém e a província de Chiba cidades-irmãs.

Homenagens - No último dia 3 de setembro, 30 representantes da comunidade japonesa receberam condecorações de honra ao mérito da Câmara dos Vereadores de Belém, em sessão especial em homenagem aos 80 anos de imigração japonesa na Amazônia.

A programação comemorativa aos 80 anos de imigração japonesa na Amazônia, que começou nesta quarta-feira (16), inclui festas, apresentações culturais, torneios esportivos e missa em memória aos pioneiros ancestrais. Os eventos, realizados pela Comissão do 80º Aniversário da Imigração Japonesa na Amazônia, acontecem em Belém, Tomé-Açu, Santa Izabel, Castanhal e na capital amazonense, Manaus.

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